top of page

Slow Science: Por que a ciência também precisa de desacelerar

  • Foto do escritor: Maria Godoy
    Maria Godoy
  • 9 de abr.
  • 3 min de leitura


Você já ouviu falar em Slow Science? O nome pode parecer estranho à primeira vista, mas o conceito é super importante, e cada vez mais necessário. Basicamente, é a ideia de que a ciência precisa de tempo: tempo para pensar, pesquisar com calma, errar, entender, revisar e, só então, publicar. Parece óbvio, né? Mas hoje, no mundo todo, inclusive no mundo acadêmico, nem sempre é assim.


A pressa virou regra em tudo - até na ciência


A gente vive num ritmo acelerado em tudo – trabalho, redes sociais, relacionamentos, consumo... E a ciência acabou entrando nessa mesma onda. Muitos pesquisadores estão sob pressão constante para “produzir” sem parar: publicar artigos, conseguir financiamentos, entregar resultados.


É a famosa cultura do “publicar ou perecer”. O problema é que essa correria toda pode comprometer a qualidade do que está sendo feito.


É a “ciência rápida”. E ela vem com vários problemas embutidos: estudos rasos, conclusões precipitadas, dificuldade de replicar resultados e até fraudes. A ciência começa a parecer uma linha de montagem, e não um processo cuidadoso de descoberta e ferramenta de desenvolvimento humano.


Surgiu, então, o movimento Slow Science.


Inspirado pelo movimento Slow Food (aquele que defende uma alimentação mais consciente, feita com calma e também mais tempo), alguns cientistas começaram a levantar a bandeira da Slow Science para afirmar que a ciência de verdade precisa de tempo.


O Manifesto da Slow Science, lançado em Berlim em 2010, diz algo simples e poderoso: "Somos cientistas. Precisamos de tempo para pensar." A ideia é valorizar o processo, e não só o resultado final. Publicar menos, mas com mais qualidade. Fazer pesquisa com profundidade. Ter liberdade para explorar temas sem estar preso a prazos desarrazoados e propósitos estritamente financeiros.


Entõa o que a Slow Science defende, afinal?


Pra resumir, o movimento acredita em:

  • Tempo para pensar: descobertas sérias e profundas não acontecem do dia pra noite.

  • Autonomia científica: a pesquisa não pode ficar refém de interesses econômicos, políticos ou de certos grupos sociais.

  • Qualidade acima de quantidade: menos artigos, mais consistência.

  • Diálogo com a sociedade: a ciência precisa ser aberta, ser útil, compreender e ser compreendida.


Por que isso importa?


Pensa comigo: quando a gente fala de saúde, meio ambiente, educação, tecnologia… tudo isso depende de ciência. Mas, acima de tudo, de uma ciência confiável. E confiança não se constrói com pressa. Um exemplo é a crise de reprodutibilidade: muitos estudos importantes não conseguem ser reproduzidos por outros cientistas. E isso coloca tudo em xeque. Será que os resultados são mesmo válidos?


Outro ponto é a quantidade de revistas científicas “predatórias” que surgiram – que publicam qualquer coisa sem revisão séria, só pra ganhar dinheiro em cima da pressão que os cientistas sofrem. É um mercado que distorce o verdadeiro valor da pesquisa.


E na prática?


Trazer a Slow Science pra realidade é um desafio. O sistema acadêmico ainda valoriza números: quantos artigos você publicou no último ano? Quantas citações teve? Quantas bolsas você ganhou? Mas, felizmente, e aos poucos, já tem gente tentando mudar isso.


Algumas instituições estão repensando os critérios de avaliação, incentivando colaborações em vez de competição, e buscando formas de financiar pesquisas de longo prazo – que não prometem resultados imediatos, mas têm um potencial transformador enorme.


A Slow Science é, acima de tudo, um convite pra gente desacelerar e lembrar por que a ciência existe em primeiro lugar. Ela não é sobre correr atrás de números. É sobre buscar respostas, entender o mundo e melhorar a vida das pessoas – com tempo, cuidado e profundidade.


Então, se você trabalha com pesquisa, consome ciência ou só é curioso sobre o assunto, vale a pena conhecer e apoiar esse movimento. Porque, sim, a ciência também precisa de tempo.

 
 
 

Comments


bottom of page